Proposta sobre aborto na Câmara é 'altamente desumana com mulheres', diz Marina

Evangélica e contrária ao aborto, ministra criticou possibilidade do estuprador ser condenado a pena menor do que vítima que fizer aborto legal após a 22ª semana de gestação.

Proposta sobre aborto na Câmara é 'altamente desumana com mulheres', diz Marina
Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, durante coletiva. — Foto: Guilherme Mazui/g1

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificou nesta sexta-feira (14) como "altamente desrespeitosa e desumana com as mulheres" a iniciativa da Câmara de analisar proposta que estabelece a aplicação de pena de homicídio simples nos casos de aborto em fetos com mais de 22 semanas.

Em entrevista no Palácio do Planalto, Marina, que é evangélica e contrária à legalização do aborto, criticou a possibilidade de um estuprador ser condenado a pena menor do que a vítima que fizer aborto legal após a 22ª semana de gestação, se o projeto virar lei.

Para a ministra, está havendo uma "instrumentalização", por parte de políticos, de um tema "complexo" e "muito delicado" na sociedade brasileira.

"Eu, pessoalmente, sou contra o aborto, mas eu acho que é uma atitude altamente desrespeitosa e desumana com as mulheres achar que o estuprador deve ter uma pena menor do que a mulher que foi estuprada e que não teve condição de ter acesso de forma dentro do tempo para fazer uso da lei que lhe assegura o direito ao aborto legal", afirmou Marina.

 

Nesta semana, os deputados aprovaram um regime de urgência para o projeto, o que coloca a proposta diretamente na pauta do plenário da Câmara sem análise pelas comissões, acelerando a tramitação.

Para virar lei, o texto precisa ser aprovado pelos deputados e, também, pelo Senado; e, posteriormente, sancionado pela Presidência da República.

Rodrigo Pacheco (PSD-MG) já disse que, se o tema chegar ao Senado, não será tratado com pressa.

Mais cedo, nesta sexta-feira, a primeria-dama, Janja da Silva, também se manifestou contra a proposta.

Em uma rede social, a esposa do presidente Lula disse que a medida "ataca a dignidade de mulheres e meninas". Ela também cobrou o Congresso a aprovar ações que assegurem a realização do aborto, no Sistema Único de Saúde (SUS), nos casos atualmente previstos em lei.

Lula e ministro evitam comentar

Na última segunda-feira (10), o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou que o governo trabalharia para que o projeto não ficasse na "pauta central" da Câmara.

Perguntado se apoiava o mérito da proposta, não quis responder. Padilha é o responsável pela articulação política do Planalto.

No entanto, nesta sexta-feira, após repercussão negativa da proposta, Padilha classificou como "barbaridade" a proposta e disse que o governo não apoiará a iniciativa.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não se posicionou sobre o tema. Ao ser perguntado na quinta-feira (13), na Suíça, o petista desconversou. "Deixa eu voltar para o Brasil, tomar pé da situação, dai eu converso com você", respondeu Lula a um jornalista.

Fonte: G1